Quando eu, menino, via o mundo
lusco-fusco num branco extremo, acreditava no bem, no ser inerentemente bondoso
que a sociedade corrompia, nunca alienado do benefício da dúvida. Quando
menino, o terror do eu-erro acometia silencioso meu sono, um medo divino do
lado lascivo das ideias, os dogmas devorando as estranhas entranhadas nas
convicções. Quando eu rebrilhava os olhos no verde-fascínio de um besouro
morto, pernas espinhosas fustigando a curiosidade de um menino com enigmas,
crescia onírico e aventureiro. Quando o menino se chocava contra a sólida
rudeza dos gestos infames, eu mortificado culpava a casca frágil da minha
ingenuidade e despertava o germe inerte da intolerância transvestida de
sobrevivência. Quando viu na grandeza de Júpiter sua pequenez agigantar-se, o
menino-eu imaginou-se domando todas as questões bravias do universo se lhe
dessem um só desejo. Quando o menino triturado pela puberdade rejuntou seus
átomos no eu, foi infiltrado pela crônica ausência de lógica e agora a vida separava
seus prótons de seus elétrons com vazio da certeza do caos. Quando eu, vestido
capa-espada, ofereci o cavalo branco da abnegação, vi o menino destronado pelo
escárnio ingrato do desprezo. Quando a névoa da guerra diária gradualmente dissipou-se
na tempestade dos tempos, vi em assepsia medonha meu corpo despido e lavado do
eu, menino.
Um comentário:
Heber, meu amigo,
O menino é a semente
Do homem antigo
E que se transforma, simplesmente,
E uma hora, de repente,
Pede abrigo.
Massa o texto, monstro.
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