Dizem que Olinda à noite é a amante despida dos acasos do Mar. No inverno, na menopausa da folia carnavalesca, ela se entrega ao dono das ondas suadas e mornas de trabalharem o calor do dia. O Mar, de maré manhosa, ora agride, ora acaricia o perfil de sua nudez: pedras acintosas na praia desnuda. Mais tarde, depois que Olinda se desmancha pelos seus ardis, o Mar se esgueira e vai embora pra se juntar com Celestina Cintilante, a dona do céu. É que nestes tempos friorentos, os dois se aninham na safadeza: ela joga por cima seu lençol de estrelas cintilosas; ele, seu cobertor de barquinhos feitiçados em luzes pela anuviação. A essa altura, o Horizonte, que já tem o trabalho de separá-los durante o dia, dorme fatigado. Assim, enganam o eterno empecilho de seus amores e ficam ali, debaixo do grande pano furado de luzinhas. Distante, Olinda acorda sozinha e fica só olhando pela janela do céu. Desolada, ela espera de novo a Manhã, que sempre traz de volta o amante infiel. O Mar, com suas carinhondas, todo dia consegue o implausível: que Olinda perdoe a traição e o receba novamente na cama de suas areias ariscas.
4 comentários:
Heber, que legal. Você tem um blog, vou dar sempre uma espiadinha por aqui. Vejo sempre poesias suas no Suplemento. Parabéns e beijos
Você está inspirado, heim! Bjs
Bóra, monstro. Muito bom o texto, meu velho. Parece uma olhada em Olinda lá do Alto da Sé. Parabéns. abraço
quadros belos na memória.
lindo! lindo! texto.
beijo.
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