“Pai, como faço pra chegar no céu?”, perguntava. “Você não vai querer ir pra lá agora, meu filho”, brincava o pai. Cansado de lógica em vez de respostas de um mundo possível, Miro dependurava as pernas na janela, como num balanço, e deixava o vento empurrá-lo. Certa noite, na hora de dormir, ficou de pé no batente e brincou de abraçar as brisas que dançavam e nisso deu um falso passo. A queda foi brusca, mas qual não foi sua surpresa ao ver que logo parou — muito acima do chão! Aí sentiu-se subir, montado num vento maroto, em direção às nuvens. Percebeu que estava indo para o céu. “Como vou saber quando chegar lá?”, pensou alto. “Quando sentir um cheiro doce. São suspiros de nuvens!”, falou meio sem pensar uma gaivota que observava curiosa aquele estranho pássaro de penugem morena, cabelos enrolados e nariz redondinho. “São sempre três camadas de nuvens: as açucaradas vêm embaixo, são suspiros; depois, as felpudas, com que fazem edredons; lá em cima, os algodões molhados, que espremem chuva”, comentou a gaivota displicentemente. Realmente, foi fácil. E passou rápido! Quando olhou para baixo, as primeiras nuvens já boiavam no mar azul, marshmellows numa sopa de anil, espelhando o céu vaidoso. Cansado de andar, o Sol pulava pra trás das montanhas; e o Horizonte, despedindo-se do amigo de brincadeiras luminosas, chorava (como toda tardinha) um rio que descia pela face da terra, na expectativa de dias melhores no verão. O último raio deu adeus, apagando a luz e fechando a porta celeste. Só aí Miro viu que as estrelas já forravam de sonhos a cama da noite que chegava. Estava intrigado por uma estrela cadente quando ouviu uma voz fanhosa: “Se a noite dorme sem sua coberta de nuvens, uma estrela cai na cama de cada menininho e ele sonha que é astronauta e jogador de futebol num campinho da Lua”, explicou uma velha e sábia cegonha. “Antes que você pergunte, eu não entrego bebezinhos”, disse. “Eu sei que não!”, indignou-se Miro. “Não sou criança! Sei muito bem que os bebês nascem de uma sementinha!”. A cegonha apenas sorriu, dizendo: “Não acha que já passeou muito?”. Puxando Miro pelo braço, levou-o até umas cúmulos-nimbos que choramingavam chuvosas pelos cantos do céu: “Deite aí e cuidado pra não molhar a cama!”. Como todo menino, Miro resistiu por cerca de dois minutos e depois adormeceu profundamente. A cegonha pediu então a uns morcegos-taxistas (que têm ótimo senso de
direção) que rebocassem a nuvem-cama de volta até sua janela, e ele sonhando luzinhas pelo caminho. Pela manhã, Miro acordou lembrando a noite estrelada que passou: “Como seria bom ter ido ao céu!”. Mas sua mãe, ocupada na eterna tarefa maternal de fazer as coisas que não terminam, entrou no quarto com uma vassoura, varrendo e reclamando alto: “Menino, se você espalhar algodão pelo quarto de novo, apanha, ouviu!?”. Miro apenas sorriu.
