
Queria escrever um texto bonito aqui hoje. Mas a solidão estrangula minhas mais sinceras tentivas de sorriso e sabota meus melhores pensamentos. Queria escrever um texto interessante. Mas tudo que vem à tona é um desinteresse por tudo. A solidão é tão autêntica e tão esmerada no seu trabalho que, quando ela está, nenhum outro sentimento se aproxima. Por isso, não estou triste. É você só dentro de você mesmo. É uma impressionante sensação de estar cheio quando tudo que você sente é um vazio. É uma busca interior por respostas em que não se encontra nada, nem as perguntas. Há um tempo, descobri, através das fontes mais confiáveis (muitas músicas e poemas), que o oposto do amor não é o ódio. É a solidão. Qualquer solitário sabe que a solidão vive exclusivamente dentro dele e independe de número ou da proximidade das pessoas que o rodeiam. Solidão não tem remédio. O máximo que se pode fazer é tomar paliativos. Por isso, se não tiver um amor, tenha sempre um gato à mão. O gato, aliás, é o único bicho capaz de identificar a solidão (note como ele vem para junto de você só nessas ocasiões... e quando está com fome, claro). Apesar da desgraça, a solidão tem, pelo menos, uma vantagem: por si só se basta. E, às vezes, é realmente sua única companhia. Como disse um certo gajo, "A inteira, negra e fria solidão / Está comigo".